domingo, 8 de maio de 2011

Studio Ghibli

Um pouco sobre sua história no mundo da animação

Por Karina Goto

O logo do Studio é Totoro, personagem principal de “Meu Vizinho Totoro”
O Studio Ghibli (pronuncia-se jee-blee) é um estúdio de animação japonês. Foi fundado, em 1985, pela parceria entre os diretores Hayao Miyazaki, Isao Takahata e o produtor Toshio Suzuki. Depois do sucesso do filme “Nausicaä do Vale do Vento” (Kaze no Tani no Nausicaä), de 1984, a ideia da criação do estúdio surgiu. O longa de Miyazaki foi adaptado de uma série de mangá homônima escrita pelo próprio diretor.

O Walt Disney japonês

A primeira produção oficial aconteceu em 1986, com o filme “Laputa, O Castelo no Céu” (Tenkû no shiro Rapyuta) que teve um grande sucesso de público, contando também com boas críticas. Em 1988, dois filmes são lançados simultaneamente: “Meu Vizinho Totoro” (Tonari no Totoro), de Hayao Miyazaki e “Túmulo dos Vagalumes” (Hotaru no Haka), de Takahaka, obras importantes na história do estúdio.

O número de expectadores aumentou com “O Serviço de Entregas da Kiki” (Majo no Takkyûbin), em 1989, feito por Miyazaki; “Only Yesterday” (Omohide Poro Poro), em 1991, de Takahata e “Porco Rosso – O Último Herói Romântico” (Kurenai no Buta), de 1992, outra produção de Miyazaki. Esses filmes foram os mais vistos de seus respectivos anos de aparição.

Apesar de produzir, na maior parte do tempo, longas de animação, o estúdio também atuou na produção de curtas-metragens, videoclipes, comerciais e até videogames. “Ocean Waves” ou “I Can Hear the Sea”, de 1993, foi um especial para a TV dirigido por Tomomi Mochizuki.
“O Serviço de Entregas da Kiki” 


Em 1994, “Pom Poko – A Guerra dos Guaxinins” (Heisei tanuki gassen ponpoko), direção de Takahata, é o primeiro filme do Studio a usar computação gráfica. Estreia de “Sussuros do Coração – Whisper of the Heart” (Mimi wo Sumaseba), em 1995, fruto de Yoshifumi Kondo com o roteiro de Miyazaki.

“Princesa Mononoke” (Mononoke Hime), no ano de 1997, rendeu consagração internacional a Miyazaki. Foi utilizada CG para colorir digitalmente os personagens.
Isao Takahata termina, em 1999, “Meus Vizinhos os Yamadas” (Tonari no Yamada-kun), filme inédito do Ghibli a ser dirigido totalmente usando o processo digital.
“A Viagem de Chihiro” (Sen to Chihiro no kamikakushi), de 2001, é um das mais famosas animações do Studio no cenário internacional. A obra de Hayao conseguiu importantes conquistas, como o Urso de Ouro no Festival de Berlim, em 2002 e o Oscar de Melhor Animação em 2003. Foi o único filme em língua estrangeira nessa categoria a ganhar a estatueta estadunidense.


Já em 2002 é filmado “O Reino dos Gatos” (Neko no Onegashi), de Hiroyuki Morita. Miyazaki retorna aos cinemas com outra obra relevante no ano de 2004, “O Castelo Animado” (Hauru no ugoku shiro). A película foi indicada ao Oscar em 2006.


O filho de Hayao, Goro Miyazaki tem seu início como diretor, em 2006, com “Contos de Terramar” (Gedo Senki). A animação é inspirada em uma série de livros escritos por Ursula K. Le Guin nos anos 70.

Dois anos depois, em 2008, aparece em cartaz: “Ponyo – Uma Amizade que veio do Mar” (Gake no Ue no Ponyo), sucesso de bilheteria no Japão e fora do país. Ao contrário das animações atuais, foi desenhado totalmente à mão por Hayao Miyazaki, levando anos de trabalho e dedicação.



Surge, em julho de 2010, “The Borrower Arrietty” (Karigurashi no Arietti), de Hiromasa Yonebayashi, adaptado de um livro de Mary Norton. Yonebayashi é o animador mais novo do estúdio a dirigir para o cinema.

Atualmente
• “Kokurikozaka kara”, baseado em uma série de mangá dos anos 80, está em andamento. Sua previsão de estreia é julho de 2011. A direção é de Goro Miyazaki e seu pai, Hayao, escreveu o roteiro.
• “The Tale of the Bamboo Cutter”, por Isao Takahata, está sendo produzido, sem data prevista de lançamento.
• Há rumores que Hayao Miyazaki está planejando fazer uma sequência de Porco Rosso.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Desmundo

Por Isabel Yoko Namba

"Desmundo", filme do cineasta Alain Fresnot, lançado em 2003, nos aproxima da realidade do Brasil colonial do século XVI. Baseado na ficção histórica de Ana Miranda, lançada em 1996. O romance é todo narrado em primeira pessoa, tudo acontece sob o ponto de vista de uma mulher. Filme e livro mostram exatamente como era o Brasil no período, um país bárbaro, embrutecido e ao mesmo tempo belo.

O longa começa com um trecho da Carta de Manoel da Nóbrega, pedindo ao rei que enviasse ao Brasil as filhas órfãs de Portugal e que na falta de moças virgens mandassem outras que estivessem disponíveis para que ocorressem casamentos “brancos” com os colonizadores.

A película Retrata os hábitos e os problemas de uma terra distante do “mundo civilizado”. Um dos aspectos abordado foi à forma como os jesuítas tentaram resolver o problema da miscigenação. No Brasil colonial onde tudo acontecia de acordo com os desejos da Igreja, importar mulheres brancas era o único jeito de afastar os homens do pecado e da mistura de raças.

No longa, o enredo gira em torno do casamento de Oribela (interpretada pela atriz Simone Spoladore) e Francisco (interpretado pelo ator Osmar Prado). Oribela, uma jovem portuguesa órfã e cristã fervorosa, é trazida ao Brasil depois de rejeitar de maneira grosseira um pretendente português. Em terras tupiniquins o casamento inevitável, enfim é celebrado e assim ela é levada ao engenho do marido.



Sem conseguir cumprir com suas funções matrimoniais, Oribela pede a Francisco que tenha paciência, entretanto delicadeza não é um dom dos homens da terra e Francisco violenta a própria esposa. Infeliz com o casamento, Oribela tenta fugir de volta a Portugal, mas acaba sendo recapturada e acorrentada por seu marido como forma de punição pelo mau comportamento.

Oribela acaba entrando em depressão e é ajudada pela índia Temerico, que lhe fornece comida e ajuda na sua recuperação até que ela resolve disfarçar-se de homem e acaba sendo ajudada por Ximeno Dias (interpretado pelo ator Caco Ciocler), um mercador de escravos judeu, convertido ao cristianismo.

Oribela tenta fugir de volta pra Portugal com a ajuda de Ximeno que temendo o perigo, planeja a fuga para as terras espanholas acreditando que de lá, ela terá mais chances de voltar a Portugal.

Um dos pontos discutíveis do filme acontece no momento em que Oribela pede a Francisco paciência para consumar o casamento, falando da necessidade de um tempo para se acostumar com a sua nova realidade, em uma época em que a submissão da mulher era regra, o pedido soa inverossímil.

O segundo fato tratado em "Desmundo" é a excessiva compreensão de Francisco, mesmo depois de duas tentativas de fuga, ele perdoa a esposa e a leva de volta para casa, retratando o amor que sentia por ela. A realidade é bem diferente da ficção, um fato como este, a honra seria lavada em sangue.

Uma curiosidade do filme foi o uso do português arcaico nos diálogos, nos levando a mergulhar na história, para uma maior compreensão do público, foi preciso o uso de legendas. Já as cenas em tupi, hebraico e nagô não receberam o mesmo tratamento mostrando a pluralidade lingüística da época do Brasil colonial.

Com um orçamento de 6 milhões de reais, dos quais 400 mil vieram do BNDES em uma co-produção Brasil/Portugal. O filme ganhou dois prêmios no Festival de Brasília em 2002 nas categorias: melhor trilha sonora e melhor atriz coadjuvante para Berta Zemel. No ano de 2004 ganhou três prêmios no Grande Prêmio BR do Cinema Brasileiro, nas categorias: melhor filme, melhor maquiagem e melhor direção de arte, o longa ainda recebeu outras oito indicações, sendo que ganhou o prêmio como melhor filme do Festival de Cinema Brasileiro de Paris (França), e o prêmio ABC de Cinematografia no ano de 2004 nas categorias: Melhor Direção de Arte e Melhor Fotografia de Longa-metragem.

Apesar dos prêmios recebidos, "Desmundo" não foi bem recebido pelo público e pela crítica, talvez por causa do ritmo narrativo lento ou porque o filme mostra de forma mais próxima possível a vida no Brasil colônia. O oposto do que é feito em outros filmes de época, onde o luxo, a riqueza e o glamour são os alicerces da produção. "Desmundo" retrata a sociedade machista do período colonial brasileiro. Mostra o homem colonial que enfrentava a selva e conseqüentemente mantinha relações com índias e negras.

O filme mostra como a mulher deveria se portar na sociedade colonial e a sua inferioridade, evidenciando como o casamento, o marido e a igreja tinham total controle sobre ela. "Desmundo" ainda hoje serve de objeto de estudo para várias teses de Lingüística, a estudos Antropológicos.