sexta-feira, 8 de abril de 2011

Degustações cinematográficas

Temática do vinho explora belas paisagens francesas

Por Laís Semis

Um quadro de Monet é como se parece a paisagem a que somos apresentados logo de cara em “Um Ano Bom” (2006), estaticamente perfeita e irresistível. Max Skinner, entre fingir que fuma um charuto, escolher vinhos e roubar no xadrez, passa suas férias em companhia de seu tio Henry, um viniticultor do sul da França.

“Muitas colheitas depois”, Max (Russel Crowe) é operador da bolsa de valores, bem sucedido e confiante, prestigiado por seus colegas de trabalho e admirado pelas mulheres que o cercam, ele é o estereótipo do cara que tem a vida que muitos almejam. Quando recebe a notícia da morte do tio e, como parente mais próximo, herda tudo o que é de Henry (Albert Finney).

Obrigado a viajar para a França, deixar o emprego por alguns dias, para cuidar da venda da propriedade do tio falecido, Max é também obrigado a conviver com as memórias do seu passado, de uma infância envolvida por vinhedo. Assim que chega lá, ele é impassível com o que está a sua frente. Mas, os lugares e as pessoas guardam lembranças de uma vida de férias de verão.

Entrando em contato direto com tais recordações, a herança, de “uma casa velha, o vinhedo e as uvas e tudo” passa enfim a ganhar um novo significado para Max. Entre sua infância e o homem adulto, cabem lembranças e comparações feitas pelo próprio personagem. As questões de quem ele era e quem ele se tornou o afligem a certa alturam, mesmo alguns traços de sua personalidade já fossem questionáveis quando criança.

Rodeado pela modernidade, aos poucos, a personagem de Crowe (“O Gladiador”, “Mente Brilhante”, “Cinderellaman”), vai se libertando da dinâmica vida das grandes cidades e redescobrindo o que o tempo cobriu de poeira e compreendendo o significado da vinícula para as pessoas que estão ligadas à ela.

O LIVRO

Se, por um lado, o diretor Ridley Scott não conseguiu arrancar tanta profundidade e originalidade desta história e personagens, como de suas outras produções “Thelma & Louise”, “Hannibal” ou “O Gladiador” (no qual também trabalhou com Russel Crowe e levou o Oscar de melhor diretor), ele conseguiu dar um ar extremamente atrativo à uma história batida e, assim como a propriedade herdada seduziu Max Skinner, espera-se que o clima consiga seduzir os espectadores. Seja pela belíssima fotografia, além de uma trilha sonora leve e encantadora, em inglês e francês (de quebra, no encerramento do filme temos a versão francesa da canção “Biquini de Bolinha Amarelinha”) ou pelo traje de uma charmosa história de romance e passado.
O longa é baseado no livro de mesmo nome, de Peter Mayle que viveu uma história parecida, ao abandonar o mercado publicitário e se aventurar pela França. Da mesma forma que Mayle, o diretor Scott também trabalhou com publicidade e divide a mesma paixão pelo Sul da França. Os dois se conheceram na década de 70 e se tornaram amigos.

A história que o filme apresenta, porém, é diferente daquela contada pelo livro. No livro, a vinícula aparece a Max como uma oportunidade de mudança, visto que ele é um mero corretor da bolsa, enquanto no longa, por ser um chefão, a propriedade é apenas uma herança que pode lhe render mais dinheiro e que, a partir de determinado momento, muda completamente o foco de sua vida.

Mayle acrescentando o conhecimento sobre vinhos adquirido como publicitário de uma firma do ramo ao tempo que morou em uma casinha em Provence, descreve uma ficção que nas telas se mostra degustatória.



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