sábado, 30 de abril de 2011

A impressão do cinema

Impressionismo francês atinge o mundo cinematográfico da década de 20 e molda novos conceitos sobre o real e o imaginário

Por Nayara Kobori




Com o fim da Primeira Guerra Mundial, o homem europeu perde a concepção dos valores racionais antes impostos pela sociedade. Há uma ruptura da perspectiva, e o mundo passa a ser encarado de modo subjetivo. Na França, um dos países mais arrasados pela guerra, surge o movimento Impressionismo do século XIX. Na pintura, essa corrente artística é conhecida pelo retrato do movimento de uma cena real em diferentes horas do dia, com o intuito de captar a luz. Mas, a técnica de pinceladas leves faz com que a cena objetiva torne-se subjetiva. No cinema, os impressionistas desejavam elevar as filmagens à categoria de arte, pois o mundo cinematográfico era apreciado apenas pela classe popular, enquanto a elite se voltava para o teatro e literatura.

“Eldorado” (1921)  de Marcel L'herbier. A dançarina Sibilla agoniza diante do filho doente. O contraste entre o claro e o escuro é evidenciado.
 Créditos: Google Imagens
Também chamado de cinema de vanguarda (avant garde, em francês), os diretores europeus daquela época ansiavam por competir com Hollywood – grande cidade cinematográfica localizada nos Estados Unidos, que é famosa até os dias atuais pela indústria de filmes. Os EUA era uma potência hegemônica da época, afinal, os norte-americanos controlavam o mundo tanto financeiramente (com os empréstimos para a reconstrução europeia) e socialmente (ditando valores estéticos, morais, e etc.). A inovação do cinema seria, então, um grande passo para a luta cultural entre Europa e EUA. Tiveram destaque o cineasta Abel Gance com seu filme épico "J’Accuse", e "A queda da casa de Usher", de Jean Epstein.

O cinema impressionista francês se caracterizava pelos planos subjetivos. Aquilo que era visto na cena era, na verdade, algo mascarado - uma realidade oculta por trás de uma realidade aparente. Um bom exemplo é o filme “Eldorado” (1921) de Marcel L'herbier, em que a protagonista, a dançarina Sibilla, aparece fora de foco na companhia das colegas, e se mostra entretida em seu trabalho, enquanto na verdade, está preocupada com o filho doente que a espera.

“A queda da casa de Usher”, (1928), de Jean Epstein.
Baseado no horripilante conto de Edgar Allan Poe.
Créditos: Google Imagens
Vale ressaltar que a década de 20 foi marcada por experimentações: a efervescência cultural era fruto de uma sociedade que procurava respostas que contrastavam com uma explicação racional. No Brasil, as influências impressionista chegaram com o novelista e poeta Blaise Cendrars (pseudônimo de Frédéric Louis Sauser). Cendrars afirmava que o cinema não era um entretenimento, mas sim, uma rica fonte de inspiração para o mundo.

A arte de impressionar

O nome Impressionismo é derivado da obra do pintor francês Claude Monet, “Impressão, nascer do Sol”, de 1827. Preocupados em retratar o movimento, os impressionistas tinham como finalidade mostrar a impressão das coisas e impressionar, (no sentido de causar espanto). No cinema, os impressionistas alcançaram com êxito seus objetivos. Contrastes entre o claro e o escuro eram frequentes nas filmagens, além das cenas horripilantes para época, como no filme “Eldorado”, que chama atenção o filho da protagonista Sibilla, que aparece agonizando em um quarto escuro, e clama pela mãe.
Assim como a maioria dos movimentos, o Impressionismo faz as artes (pintura, literatura, cinema, música, etc.) dialogarem entre si. Não basta apenas o olhar (pintura), ou com o som (música), ou com as imagens (cinema); a impressão só acontece quando todos os sentidos são despertados, mexendo com o psicológico humano, e lapidando valores de uma sociedade descrente pelos efeitos de uma Guerra Mundial.



Filmes impressionantes
• "A queda da casa de Usher”, (1928) dirigido por Jean Epstein, é baseado em um conto do escritor inglês Edgar Allan Poe. Conta a história de Lorde Roderick Usher, que após enterrar a esposa morta, fica convencido que ela está apenas adormecida.
• “Eldorado”, (1921) de Marcel L'herbier, conta a história da dançarina Sibilla, sedutora e enigmática, que sofre calada com a doença do filho, que está prestes a morrer. É interessante o modo como a protagonista é retratada: ela está fora de foco perante os outros personagens.
• “J'accuse!”, (1919) de Abel Gance. História de dois homens: um, o casado; o outro, o amante. Ambos se encontram nas trincheiras da Primeira Guerra para vivenciarem seus horrores.




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