terça-feira, 5 de abril de 2011

127 Horas

Retrado do drama real de um alpinista traz impecável interpretação de James Franco

Por Lucas de Oliveira Loconte


Danny Boyle é um diretor ousado em seus projetos: depois de conquistar o mundo com “Trainspotting – Sem Limites” (1996) e surpreender a todos com o magnífico “Quem Quer Ser um Milionário?” (2008) (e abocanhar oito das dez indicações ao Oscar por esse filme), o diretor inglês de 54 anos volta às telas com mais uma obra-prima: “127 Horas” (“127 Hours”, EUA/Inglaterra/França, 2010).

O filme conta a história real do alpinista Aron Ralston que, em 26 de abril de 2003, partiu para uma caminhada exploratória pelo Blue John Canyon, no estado de Utah, sem avisar ninguém para onde estava indo. Durante uma descida, uma pedra se deslocou e prendeu seu braço, mantendo-o refém durante cinco dias no meio de um deserto. Lutando contra elementos da natureza e seus próprios demônios, Aron descobre que possui a coragem e a força para se libertar ao se lembrar de amigos, amores e da família e do verdadeiro valor da vida.



No aspecto técnico, a direção de Danny Boyle se mostra cada vez melhor: ao mesmo tempo em que realiza tomadas fortes e incômodas, ele traz momentos leves, levando o público da aflição à emoção, da comédia para o drama com muita maestria e classe e num curto período de tempo. Utilizando constantemente uma câmera de mão, que traz, ao mesmo tempo, dinamismo para algumas cenas e desconforto para outras, Boyle confere um ar documental ao filme, mostrando a (real) obsessão de Ralston em registrar o seu suplício.


James Franco constrói um protagonista humanizado e curioso: ao mesmo tempo em que ele parece ser uma pessoa solitária ficando apenas em contato com a natureza, ele se revela alguém que necessita do apoio da família e dos amigos. Levando praticamente o filme nas costas, Franco se revela um grande ator da sua geração, e demonstra grande capacidade pra filmes dramáticos.

POLÊMICA


“127 Horas” gerou grande polêmica com o momento em que o personagem amputa o próprio braço, já que muitas pessoas passaram mal durante a cena. Na verdade, a edição com cortes rápidos e a explicação dada pelo roteirista Simon Beaufoy em uma entrevista ao site Omelete comentam essa polêmica: "não é por ser sangrento. Você vê mais sangue em ‘Jogos Mortais’ ou ‘Halloween’, sempre. É por que é uma história de vida muito pessoal e intensa. A audiência assiste através dos olhos daquele cara, preso ali".


A edição do filme e a trilha sonora também são um show a parte: a abertura do filme é uma das melhores que vi em anos, e já indica o espírito do filme de celebração à vida (na verdade, o teaser trailer já demonstrava isso). Além disso, a montagem, com painéis em alguns momentos ou cortes rápidos em outros faz com que o público tenha uma experiência única com o filme. A trilha de A. R. Rahman (que venceu o Oscar pela trilha do Quem quer ser um milionário?) ajuda a entrar no clima também, com músicas que se encaixam perfeitamente em cada momento, como na seqüência final, genialmente combinada com a direção nervosa e a montagem final.
         
Uma última observação tem relação com alguns exageros cometidos por Danny Boyle: na tentativa de evocar o estado de espírito do protagonista, algumas seqüências repletas de planos curtíssimos, cortes rápidos e movimentos de câmera absurdos funcionam apenas para destruir o clima opressivo de sua prisão natural. Se ele utilizasse apenas o silêncio sufocante do canyon, Boyle certamente teria estabelecido um clima muito mais fiel à situação vivida por Ralston.
          
Mesmo assim, não há como deixar de admirar a força de viver de Aron Ralston e a mensagem que o diretor quer deixar ao público: não existe força mais poderosa do que viver. E isso, é fato.

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